Eu comecei a trabalhar em 1980. Eu tinha quatorze anos. Assim que foi permitido por lei meu pai me colocou na empresa da família, o nosso escritório de contabilidade, na função de office-boy.
Eu estudava na parte da manhã, saia por volta de 12h30 e corria para casa, almoçava e ia trabalhar. Eu pegava o metrô, recém-inaugurado, descia no Centro do Rio de Janeiro, Av. Pres. Vargas, e andava até a empresa. Depois passava o dia todo andando pela cidade, parte a pé mesmo, parte tinha que pegar ônibus e andar ainda para chegar nas empresas e fazer o trabalho.
Meu pai definiu meu uniforme de trabalho como sendo uma calça de tergal preta, camisa social branca de mangas compridas e sapato preto, o famoso Vulcabrás 752 calçados sobre meias de fino trato.
No verão era um inferno de quente, trabalhando o dia inteiro, pois estava sempre de férias e nas férias tinha que ir com o meu pai e voltar com ele. Naquela época praticamente não ligávamos os aparelhos de ar-condicionado. Eles estavam lá, instalados, mas papai não ligava para economizar na luz.
Aliás, na década de oitenta, mal tínhamos calculadoras. Algumas ainda eram manuais e não elétricas. A sala de cem metros quadrados tinha quatro tomadas elétricas. Então, era um emaranhado de fios para ligar ventiladores e calculadoras.
Obviamente não havia computadores e as máquinas de escrever eram manuais. Inclusive esse foi o primeiro curso que eu fiz: datilografia. Eu teclo estas palavras utilizando todos os dedos das mãos por conta desse curso, lá na década de oitenta.
Aprendi tudo o que sei sobre negócios com nossos clientes. E vou te dizer: é um baita aprendizado ver 40 anos de empresas abrindo e fechando. A cada nova empresa eu aprendia os porquês de alguém querer abrir uma empresa e a cada empresa que fechava eu tinha a oportunidade de estudar porque a empresa não deu certo.
Seja por descontrole de caixa, sócios que sangram todo o lucro e deixam a empresa à mingua, seja por um projeto mal pensado, sem nenhum tipo de planejamento.
E isso ficava muito claro quando os clientes nos procuravam para fechar uma empresa. Ao serem perguntados dos motivos eles os expunham em detalhes e quase sempre podíamos ver que de duas uma:
1. Não planejaram corretamente na hora de abrir o negócio;
2. Não controlavam o fluxo de capital, caixa, nada, nem uma planilha.
E o que eu quero tratar aqui nesse texto é o primeiro item: planejar corretamente na hora de abrir um negócio.
Naquela época havia uma expressão muito usada pelos americanos: location, location, location. Ou seja, a localização da loja tinha um peso muito maior do que qualquer outra coisa. Uma loja mal posicionada perdia vendas por falta de público passando na porta.
Então, qual é o equivalente da localização para o comércio online?
Perguntando alguns respondem: coloca teu produto em um marketplace. Mas isso não resolve, porque cada marketplace tem um critério próprio para mostrar os produtos na página. Com fazer para o seu ser o primeiro?
Pois é, marketing. A ordem do dia é essa. Aprender a usar o marketing a seu favor. A empresa que não sabe fazer marketing não vende. Qualquer um que precisa vender precisa de alguém que compre, obviamente.
E o equivalente a localização, a um posicionamento no shopping center, a uma situação privilegiada, com visibilidade, nas ruas, é aparecer na tela do dispositivo do seu cliente quando você quer vender algo. Se o seu cliente não vir o seu anúncio ele não compra o seu produto.
Isso fica muito mais complexo quando estamos falando de pequenos empresários, microempreendedores e profissionais liberais. Alguns nem sequer podem anunciar seus produtos, proibidos por códigos de ética, enquanto outros não tem nem o conhecimento necessário nem capital suficiente para isso.
Quando o caso é o de uma empresa varejista de grande porte a competição é acirrada, margens pequenas e grandes volumes. Mas quando falamos de microempreendedores, como competir nesse mercado selvagem? E aonde eu quero chegar com isso?
O ponto é que sem um planejamento muito bem feito antes de começar o seu negócio você corre o risco de não passar nem da primeira fase, ou seja, não vai nem conseguir vender. Nada.
Hoje em dia, com o advento das vendas online no patamar que estão e aumentando você tem que ter uma estratégia de vendas online muito bem desenhada para vender.
Você irá perguntar:
E é aqui que “a porca torce o rabo”, como dizia meu pai.
Não, não deve. Essa é a grande diferença entre a época do location, location, location, para hoje, no sistema 100% online.
Hoje você pode começar pequeno, gastando pouco e testando o produto online, em marketplaces, aprendendo passo a passo do marketing online para ir vendendo cada vez mais. Até que um dia você atinja um patamar onde possa contratar uma equipe de marketing que irá seguir com os trabalhos de vendas online.
Hoje, qualquer um pode se tornar um influencer digital e virar referência em algum assunto. Com isso irá conseguir vender seus serviços ou produtos online, sem muito esforço. E você nem precisa ficar famoso ou ser muito conhecido, basta ter uma base sólida de seguidores que estejam alinhados com o seu objetivo. É melhor ter poucos seguidores engajados do que milhares de seguidores que não tenham nenhuma conexão com o seu propósito.
As mudanças de 1980 para 2023 são absurdas. Os melhores vendedores da década de oitenta talvez hoje não vendam nada. Porque hoje ele precisa estar a par dos concorrentes online, dos aplicativos, dos preços e formas de pagamentos online. É tudo diferente. Ou seja, a sabedoria da década de oitenta ainda vale para hoje?
A reposta é sim. Ainda vale. Obviamente precisa de adaptações, mas o que vendia na década de oitenta é o mesmo que vende hoje: a vontade do consumidor. Sim, a forma mudou, mas o objetivo do comprador é o mesmo: adquirir ou consumir o que você tem para oferecer.
Seja por um motivo ou por outro, seja necessidade ou desejo, você precisa criar no seu cliente esse impulso de adquirir o seu produto ou serviço. E isso é função do marketing.
Por isso, se você quer vender algo online você precisa aprender sobre marketing digital. E o que não faltam são opções. Todos os dias aparecem cursos de marketing digital na internet. O problema é que custam algum dinheiro, nem sempre caros, mas sempre custam algo, ainda que seja tempo, coisa que os pequenos empresários não costumam ter sobrando.
E isso é particularmente importante para o profissional liberal. Advogados, contadores, arquitetos, esses profissionais que sempre viveram do boca-a-boca, da qualidade do trabalho que faziam e eram indicados pelos clientes, hoje enfrentam uma concorrência online gigantesca, inclusive de grandes empresas que antes não atendiam os seus clientes, mas que hoje tem no serviço online um atendimento para os pequenos clientes e com isso canibalizam o mercado do boca-a-boca que sustentava o seu negócio.
Como combater isso? Só sabendo lutar na mesma arena, no online, no digital. Por isso é tão importante que os pequenos empresários aprendam o marketing digital.
Na verdade vamos chegar a um ponto onde teremos que ensinar nossas crianças a lidar com o marketing digital. Não apenas ativamente, ou seja, anunciar e destacar os seus currículos para que possam efetivamente chegar ao mercado de trabalho, mas passivamente, para que possam entender quando estão sendo induzidas a consumir um produto ou serviço.
Temos que aprender sim ou sim como funciona para essa nova era que estamos entrando. A era do “é tudo digital”.
Uma nova visão do mundo onde o comercio de rua passa a ser apenas mostruário, lojas conceito e demonstrações de produtos que iremos comprar online, quando voltarmos para casa. E aquele que tem um QR Code que ganhou na loja física terá um desconto no produto se adquirir o produto menos de 24h depois de ter ido na loja.
A palavra chave aqui é a experiência do usuário, tanto digital como física. O tal o UI/UX, é a interface do usuário, ou seja, com quem ele interage, no site, digitalmente, ou na loja física, com uma pessoa ou um robô ou ainda um totem. É essa interface, essa cara do sistema, que fará a experiência ser boa ou ruim.
E se você não sabe nada de marketing digital você está ficando para trás. Como no dito popular: se você não deu um passo a frente hoje você não ficou parado, você está perdendo terreno, porque seu inimigo andou um passo a mais do que você. Portanto, comece a se mover.
Vá para a internet. Procure um curso gratuito de marketing digital, vá para o Youtube, ache meia-dúzia de youtubers que falem de marketing digital e teste, coloque lá R$10,00 por dia em uma campanha de marketing e comece a aprender. Você estará pagando R$300,00 por mês no seu “curso” de marketing digital. É o seu custo de aprender.
E isso será um enorme diferencial para você, seja onde for, seja como for. Você pode ser um empregado em uma empresa, mas se tiver uma boa presença digital, uma cara online, no LinkedIn, um perfil bem estruturado no Facebook, um Instagram que atrai a atenção dos seus pares, quando você ficar desempregada você irá se recolocar imediatamente.
Não use o seu Facebook e o seu Instagram somente para sua vida pessoal. Tenha um perfil fechado para amigos e familiares e um aberto, profissional.
Use as redes sociais a seu favor, ainda que não seja um profissional liberal ou um empresário. Use, teste, treine, tenha o conhecimento necessário de marketing digital para qualquer momento mais complicado na sua vida. Até para vender cupcake e fazer uma renda extra.
O que eu aprendi lá na década de oitenta ainda vale hoje: todo mundo consome algo. Você só precisa estar no lugar certo, na hora certa, para vender o seu produto ou serviço e a hora de aprender a se posicionar é agora. Antes que seja tarde.
O seu eu do futuro agradecerá.