Meu pai e eu trabalhamos quase 20 anos juntos.
Eu comecei a trabalhar aos 14 anos, ainda estudando na parte da manhã e trabalhando na empresa de contabilidade do meu pai após o almoço.
Meu pai me colocou para trabalhar para me tirar do grupinho da rua, um grupo que se metia em confusões constantemente e que tinha algum histórico de drogas, sexo e rock´n roll.
Minha mãe não achava nada engraçado aquilo e combinou com meu pai de me colocar na parte da tarde para trabalhar e entender o preço do dinheiro. Funcionou.
Comecei cedo dentro do escritório a me acostumar com as brincadeiras e o bulling dos funcionários com o filho do patrão. Tinha de tudo, desde me colocar para fazer as tarefas mais pesadas ou mais sujas, até me mandar a lugares sabidamente perigosos ou de difícil acesso. Só para me testar. Passei nesse teste. Nunca reclamei de nada, mas aprendi muito.
Rio de Janeiro, verão, todos os meus amigos de férias e eu trabalhando. Calça de tergal preta, blusa social branca, sapatinho Vulcabrás 752. E toca andar pelas ruas do Centro do Rio no sol de quarenta graus entregando envelopes. É, eu comecei como office-boy.
No escritório havia uma ordem tácita de como as coisas deveriam funcionar. Qualquer um que entrava começava como office-boy e nessa função preenchia carteiras de trabalho e livros ou fichas de empregados. Ajudar o Departamento de Pessoal era a porta de entrada. Dali, era comum uma promoção para ajudante de DP.
Após alguns anos no DP fui promovido a auxiliar de escrita fiscal. E naquela época isso significava copiar os dados das notas fiscais para os livros contábeis com caneta tinteiro. Eram milhares e milhares de notas por mês. Um trabalho infindável.
O próximo passo era chegar a auxiliar de contabilidade. Era o auge dessa etapa de auxiliar. Depois disso era possível uma promoção para chefe em algum cargo que vagasse primeiro.
Eu fui galgando cargos, obviamente era mais fácil para mim, já que meu pai era o dono da empresa. Mas acabei parando pelo meio do caminho para focar em programação de computadores e estudar os softwares contábeis. Em 2001 o escritório todo rodava softwares feitos por mim. E tinha acabado de sair da faculdade de contabilidade, que havia começado em 1997.
Nesse ponto eu era gerente geral, abaixo apenas do meu pai. Já estava na empresa desde 1984. Foi quando em 2003 meu pai teve um AVC. Uma isquemia que o deixou paralisado do lado esquerdo do corpo. Com isso ele não podia mais andar, não falava, não tinha condições de trabalhar.
Foi uma aposentadoria forçada. A saúde o abandonou quando ele ia poder começar a aproveitar a vida. Infelizmente.
Até aquele momento eu era o filho do dono. Sim, trabalhava, produzia, conduzia o escritório como gerente, mas eu não me preocupava se no dia seguinte nós iriamos estar ali. Essa era a função do meu pai: definir o futuro da empresa.
Desde o primeiro dia na empresa eu nunca tinha me preocupado se haveria dinheiro no final do mês para pagar os empregados ou se as contas estavam todas pagas. Essa função era do chefe, do meu pai.
De repente, do dia para a noite, eu acordo com o telefone tocando:
Eu ainda estava na cama. Tinha ido a uma festa no dia anterior. Aniversário da minha cunhada, ainda no meu primeiro casamento. A festa tinha acabado com o nascer do sol.
Levantei de sobressalto, peguei o carro e sai como um louco da Barra da Tijuca, onde eu morava, até o Largo da Segunda Feira, onde meu pai estava almoçando em uma churrascaria quando teve o derrame.
A ambulância chegou logo depois e levamos ele para o hospital. Era um domingo.
Na segunda-feira pela manhã eu fui para o escritório tendo passado a noite em claro, sem saber o que fazer.
Eu passei uma semana chorando pelos cantos. Escondido. Inseguro. Com medo.
Tive o apoio dos meus colaboradores, especialmente os mais antigos, assim como de vários clientes da empresa, que vinham saber notícias de meu pai.
Mas quando a notícia de que ele estava em coma já havia 30 dias e de que os médicos não tinham muita esperança de que ele voltasse a ter uma vida normal no curto prazo se espalhou na clientela começou uma debandada.
Perdemos 25% dos clientes em 6 meses. Chegamos a perder 40% dos clientes no primeiro ano.
Isso era mais do que eu podia perder.
A dor era enorme. O medo de falhar era ainda maior. Eu precisava de apoio, de ajuda, de suporte. A pressão era enorme. Nessas horas é que descobrimos quem é realmente amigo.
Dentro da empresa um grupo de colaboradores comprou a briga junto comigo. Essas pessoas foram meus pés, minhas mãos e o meu segundo cérebro.
Eu não tinha a quem perguntar nada sobre o futuro da empresa. Eu não podia demonstrar fraqueza. Eu tinha que ser o farol, o guia. Tinha que definir o futuro e explicar para onde íamos e por quê. Não foi nada fácil.
Definir para onde ir é até fácil, difícil é manter o rumo. Segurar as rédeas desse bicho brabo que é uma pequena empresa para manter o rumo no rebanho do mercado.
Por isso que eu disse no título desse artigo que minha jornada como empresário começou nesse dia, na saída de cena do meu pai, meu ídolo, meu guia.
Substituir o meu pai não foi tarefa fácil. Ele era um líder nato.
De onde eu o via tinha muita força, tinha controle da situação, mas quando eu cheguei no lugar dele eu notei que aquelas noites em claro que eu via ele fumando na varanda de casa e as vezes que eu chegava de madrugada das minhas baladas de solteiro e ele estava acordado não era apenas porque ele estava me esperando chegar.
Passei muitas noites em claro, estudando como fazer para manter a empresa rodando. Para manter as contas em dia.
Ser empresário não é tarefa simples. Muito menos fácil. Ser empresário é dormir todos os dias com o inimigo na porta de casa, esperando você bobear para ele te matar.
E eu tive que aprender da forma mais dura: na perda do meu amigo, do meu guia, do meu líder. Na perda do meu pai.
Daquele dia em diante a vida nunca mais foi a mesma.
Os cabelos caíram com mais força, em pouco tempo eu estava quase sem.
É realmente uma pressão enorme. Manter tudo rodando parece simples, mas não é. Deixar os empregados aí trabalhando sozinhos não faz o dinheiro cair no banco. Não mesmo. Se você não segurar essas rédeas com força e definir o caminho correto, não há empresa que resista.
E entrar para esse mundo de supetão foi difícil.
Eu tive muito apoio e quero agradecer publicamente a todos os que me ajudaram e ainda me ajudam até hoje. Quero agradecer aos que estiveram e ainda estão ao meu lado. Não vou citar nomes. Vocês sabem quem são. Não quero correr o risco de não citar alguém e cometer uma injustiça. Mas muita gente me ajudou. Inclusive algumas que não estão mais aqui, entre nós. E todas elas foram importantes para eu estar aqui hoje.
Mas eu tenho que agradecer mesmo aos meus pais, que me educaram para não desistir. Que me fizeram enxergar que a família é o centro da nossa vida. E a minha família precisava de mim naquele momento. E muito.
Meu pai era o centro da nossa vida e havia saído de cena. Era a minha vez. E eu não decepcionei.
Os primeiros cinco anos foram os mais difíceis. Aprendi “na marra” como lidar com as adversidades de ser empresário no Brasil. As leis mudam todos os dias. As leis não são respeitadas. Os governos mudam tudo o tempo todo. E nós, empresários, como guias que somos temos que nos adaptar. Aliás, acho que essa é a principal característica de um empresário: adaptação. Vai lá e se vira. Faça, seja como for. Dá teu jeito.
O problema é que isso também é uma armadilha para os incautos. Fazer, seja como for, pode levar algumas pessoas buscarem o caminho mais fácil. Nessa hora surge a corrupção, o suborno, a tentativa de superar os desafios sem passar pela parte difícil.
Esse é um erro que eu jurei nunca cometer: pula a parte difícil. Porque descobri desde pequeno que nesses momentos difíceis eu aprendo muito. E como aprendo.
Esses cinco primeiros anos após a saída do meu pai eu me reinventei. Não apenas reformei todo o sistema da empresa, troquei o software contábil que utilizávamos, foi um esforço gigantesco parametrizar tudo do zero. Mas também troquei boa parte da equipe. Eu precisava de gente do meu lado que pensasse como eu.
Resolvi que essa nova visão que eu tinha do futuro da empresa precisava de uma nova cara. Quebrei tudo, arranquei o piso de taco das duas salas de oitenta metros cada uma e coloquei granito em uma parte, tapete em outra, levantei paredes de gesso, fiz uma recepção imponente. Deixei a empresa com uma cara moderna, mais a minha cara. E comecei a promover o nosso trabalho junto aos clientes.
E passados outros cinco anos, ou seja, dez anos após a saída de meu pai de cena eu tinha dobrado a base de clientes e triplicado o faturamento. A vida é boa.
Foram anos de prosperidade. Crescemos muito. Batemos todos os nossos objetivos. E seguimos crescendo. E aí veio a pandemia. Bora recomeçar. Vamos nos reinventar novamente.
Naqueles anos de crescimento eu havia focado em um nicho de mercado: turismo. Hotéis, restaurantes, bares, tudo o que gira em torno do turismo no Rio de Janeiro, onde é a minha base. E a pandemia parou tudo. Crise. Hotéis fechados, com tapume nas portas e janelas. Bares fechados, sem poder trabalhar. E eu tinha 70% da minha base de clientes nesse nicho.
Não há de ser nada. Bora reinventar. Vamos para a internet, vamos para o online.
Primeiro passo: todos os colaboradores enviados para casa com um micro. Autorizei levarem a mesa e a cadeira que usavam, além de tudo o que eles precisassem para continuar trabalhando remoto.
Reduzimos a presença física. Hoje temos uma base sólida de clientes com uma presença forte online, LinkedIn, YouTube, Instagram, Facebook, faço posts em todas as redes sociais com regularidade.
Voltamos a crescer, apesar de o turismo no Rio de Janeiro ainda estar sofrendo com a parada brusca que foram os anos de 2020 e 2021. Para este ano o objetivo é atingir 25% de crescimento no faturamento.
Seguimos fortes, mas eu quero te dar um recado. Para você que é empresário e que pretende passar o bastão para alguém da família. Para você que é centralizador, como meu pai era.
Comece a pensar se não é a hora de iniciar a transição para a próxima geração e passar a uma posição de suporte. Passe o bastão cedo, em vida, de modo que você possa ser o guia dessa mudança de controle. Não espere o pior acontecer para seus herdeiros recebem de supetão o controle da empresa ao mesmo tempo que tem que lidar com a perda da sua presença, da sua orientação, do seu apoio.
Planeje com antecedência. Seja prudente. As chances de sua empresa sobreviver a você aumentam substancialmente. Segundo o SEBRAE, no artigo “Pais e filhos: os desafios e valores entre gerações de empreendedores”, “cerca de 70% não sobrevivem à geração do fundador e apenas 5% chegam à terceira geração”. Você pode mudar esse jogo. Comece agora.
A primeira coisa a fazer é um planejamento patrimonial e sucessório e essa é uma das nossas especialidades. O meu pai fundou o escritório em 23 de junho de 1963. Este ano fazemos 60 anos de existência. E ele, sendo espanhol, criou uma base de clientes onde 80% era de espanhóis também. Por isso o nicho de hotelaria, bares e restaurantes. Fizemos muitas holdings familiares para passar o patrimônio para as gerações futuras sem os custos de um inventário ao longo dos anos.
E agora, mais do que nunca, isso se tornou imperativo. Estamos preparados para atender a você que quer passar o bastão. Conheça o meu trabalho.
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Não deixe seus filhos passarem pelo que eu passei. Previna-se. Planeje a sua saída com antecedência. Você irá garantir que o seu patrimônio sobreviva a você.
O seu eu do futuro agradece. Seus filhos também.
Roberto Campos – Contador