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Erros na sua declaração de IRPF podem prejudicar a sua holding patrimonial

30 de Janeiro

Eu recebo vários clientes todos os anos com problemas diversos. Mas a grande maioria dos problemas é a inclusão de algo que não deveria ter sido incluído ou o lançamento no lugar errado, especialmente de dívidas e ônus ou financiamentos de bens. Em alguns casos o problema está relacionado com não ter declarado o imposto anual ou por não ter incluído na declaração algo que deveria ter sido incluído. Isso quando o problema não é operações em bolsa no Brasil e no exterior que não foram lançadas, que são problemas bem mais complicados.

A holding familiar do Cláudio

Ano passado veio me procurar um cliente que vou chamar de Claúdio buscando montar uma holding patrimonial familiar. Fizemos a Sessão de Viabilidade e o caso era perfeito para montagem de holding.

O passo seguinte é a montagem do croqui, que é a fase da montagem da holding onde levantamos os dados todos, buscamos nas Secretarias Municipais de Fazenda e nas Secretarias de Estado de Fazenda os valores dos impostos e das taxas que incidem sobre o patrimônio nos casos de inventário, doação direta aos herdeiros e nas possíveis montagens de holdings (sim, simulamos alguns cenários para decidir qual é o que a família prefere) a fim de encontrar todos os custos e mostrar através de gráficos qual o melhor caminho a seguir a partir daquele momento.

E para a montagem do croqui precisamos pedir à família os dados necessários, ou seja, pedimos as declarações de imposto de renda de todos os envolvidos, inclusive genros, noras e netos, de modo que possamos montar um quadro completo do patrimônio da família e sugerir os modelos de holding que contemplem não apenas todo o patrimônio, mas a proteção necessária, no caso de dívidas e negócios que possam colocar em risco o patrimônio hoje e no futuro. Por isso as declarações bem-feitas são fundamentais, se os dados estiverem errados iremos montar um cenário errado. E isso pode colocar tudo a perder.

Além das declarações pedimos as certidões dos cartórios de registro de imóveis de todos os imóveis. Sejam urbanos ou rurais. E isso é para que possamos entender a situação jurídica dos imóveis. Se estão todos legalizados, se os registros estão atualizados, se as construções constam legalizadas e isso é porque a holding passará a ser a dona dos imóveis e teremos que registrar essa mudança de propriedade nos cartórios e se não estão em dia teremos que acertar tudo para a finalização do trabalho de constituição da holding familiar.

E quando eu pedi ao Cláudio as declarações de imposto de renda ele se apressou a me avisar que alguns imóveis não estavam declarados e que outros eram apenas posse, com uma promessa de compra e venda particular, sem nenhum tipo de registro oficial.

E aqui começam os problemas. Podemos sim, colocar na holding imóveis que somente possuem direitos aquisitivos, sem escritura definitiva, mas você está perpetuando um problema, deixando um problema para as gerações que virão, não está corrigindo e melhorando a perpetuação do seu patrimônio. Por isso sugerimos sempre a correção desses pontos, retificando, terminando o processo de cada um, tirando os devidos registros nos cartórios próprios, para que os patriarcas deixem tudo certo, pronto, para as próximas gerações. Mas normalmente há diversos custos envolvidos que podem ser altos, também tem uma demora no processo de holding para aguardar essa regularização.

Quando falei isso com o Cláudio ele já disse que ele não quer mexer nisso. Que prefere deixar assim mesmo.

Vejam, o sistema de holding familiar é uma forma de se colocar o patrimônio da família sob um manto de proteção e controle que ao não seguir as normas coloca o sistema sob risco. Risco de processos futuros, brigas com antigos proprietários ou mesmo com o próprio estado, que pode cobrar taxas e impostos que não cobrava porque os dados nos cartórios estavam errados.

Quando eu falei isso o Cláudio ficou com medo dos custos saírem do controle. Realmente há casos que não temos os custos todos antes de começar os processos, como por exemplo no caso de pedido de regularização de construções. Podemos estimar, mas ter certeza somente após pedir o cálculo nas repartições.

Se seguimos adiante sem as regularizações todas colocamos o patrimônio em risco. Se não seguimos paramos pela metade. O que fazer?

Chamamos uma reunião com a família toda de Cláudio para que dentre todos possam decidir? Ou Cláudio é soberano e dirá que não vai fazer nada? Complicado, nós como consultores termos que tomar essa posição, mas é o que temos que fazer, pedir ao Cláudio para repensar, conversar, explicar para a família toda as implicações dos atos que tomaremos na montagem do sistema.

Entendam que o sistema de holding inclui a assinatura de todos os envolvidos para que termine, ou seja, é importante que todos estejam cientes dos fatos e dos riscos envolvidos.

E o que a família de Cláudio decidiu? Decidiu acertar tudo e fazer da forma correta, mesmo que isso implique em custos agora, mas é melhor do que deixar para um inventário complicado, sem a presença dele e que pode se tornar um pesadelo se for necessário encontrar os vendedores de posses e promessas não terminadas.

Mas graças a Deus tudo andou muito bem e o sistema de holding da família do Cláudio já terminou e está todo certinho. Agora temos a segurança de que se algo acontecer com alguém na família dele o sistema está preparado para proteger o patrimônio.

O fato é que para chegarmos nesse ponto eu tive que retificar as declarações de imposto de renda de vários deles, incluir imóveis que não estavam lançados e acertar valores que estavam errados, financiamentos lançados de forma errada, para somente depois passar para os registros em cartório dos imóveis e somente depois de tudo acertado é que pudemos começar a constituição da holding familiar deles.

Os contadores e as holdings familiares

Na faculdade a gente aprende a contabilidade dos balanços das empresas, mas na realidade o contador é o consultor tributário, o consultor societário, o consultor de negócios e por aí, vai assumindo vários papéis.

Não somos meros preenchedores de formulários para o governo. Somos intermediários entre os diversos tipos de empresas e as muitas obrigações que elas têm. E é aqui que esse problema dos vários papéis pode transformar a sua vida em um inferno astral.

O contador quando se forma na faculdade ele sai com um único papel: aquele contador dos balanços das empresas. Na faculdade não nos ensinam a dança das cadeiras do mundo empresarial, nem como lidar com a burocracia do dia a dia das repartições públicas. Não aprendemos nada sobre imposto de renda das pessoas físicas nem nada sobre holdings familiares. Muito menos sobre como o imposto de renda afeta a montagem da sua holding ou de como a sua holding pode afetar o seu imposto de renda.

Tudo isso é ensinado na prática, dentro do escritório, trabalhando e aprendendo. Nós precisamos estagiar, estudar o mundo real, quebrar a cabeça. Porque a faculdade não nos ensina a vender o serviço de contabilidade para podermos captar clientes como contadores autônomos. A faculdade não nos ensina a lidar com pessoas, mas com números. E por incrível que pareça, a área da contabilidade tem muito mais a ver com pessoas do que com números.

Por isso, contratar um profissional que não tenha a devida experiência com a área do imposto de renda e ao mesmo tempo com a área de holdings familiares para montar uma estrutura de holdings para a sua família é cair em uma armadilha. Você pode entrar em um labirinto de problemas que só irá descobrir que está perdido quando precisar buscar a saída.

É por isso que nos EUA as holdings familiares são instrumentos da área de Wealth Services (serviços de riqueza – mal traduzindo – que na verdade é a área de consultoria e planejamento patrimonial), pois o profissional precisa entender das duas coisas ou você precisar estar assessorado por dois profissionais diferentes, cada um especialista em uma das duas áreas: seu imposto de renda e no planejamento patrimonial da sua família.

Como funciona planejamento patrimonial?

Uma holding familiar é uma estrutura jurídica que pode ser composta por uma estrutura ou várias estruturas, não necessariamente empresas, mas estruturas mesmo. É um sistema que precisa ser desenhado especialmente para o seu caso, sob pena de não atender aos seus problemas.

Ela deve facilitar a gestão do patrimônio, reduzir a carga tributária, resolver a sucessão evitando o inventário com todos os seus custos e problemas, além de organizar e melhorar a visão de futuro da família quando o assunto é acúmulo patrimonial de longo prazo.

Com uma holding bem estruturada uma família irá conseguir tomar melhores decisões de investimentos, planejar com segurança o caminho para o futuro, para seus herdeiros, proteger os negócios e isolar riscos, se necessário, garantindo a segurança dos ativos que foram acumulados ao longo do tempo com tanto sacrifício.

Porém, criar uma holding não é chamar o contador, abrir uma empresa e colocar o patrimônio lá dentro. Esse contador, com esse chapéu, é o contador societário, que monta empresas e faz balanços. Esse profissional não está apto, sozinho, a te orientar na montagem de uma holding. Ele precisa de um advogado societário, especialista em direito societário.

A montagem de uma holding exige a instituição de cláusulas especiais nos contratos. É comum ser necessário um estudo aprofundado da situação da família para a montagem das cláusulas de proteção, de controle, de sucessão, que irão proteger a sua holding no caso de mortes e divórcios de patriarcas e de herdeiros. Quase sempre montamos contratos entre os patriarcas e os herdeiros, os acordos de sócios, com cláusulas ainda mais detalhadas, personalizadas, para o seu caso.

Existem muitas formas de se fazer essas cláusulas e temos que entender o seu caso antes de sair montando empresas apenas. Ou você termina com um Frankenstein nas mãos, sabe aquele monstro que era feito de partes de outras pessoas mortas? Esse mesmo, pedaços que não tem muito a ver um com o outro? Pois é. Isso não é holding familiar. É um monstro.

Mas sim, você precisa de um contador para analisar a situação fiscal da sua família. Analisar os impostos de renda, estudar se está tudo correto, antes de sair tirando tudo das pessoas físicas e passando para pessoas jurídicas.

Lembram do caso do Cláudio? Então, se não for feito por um time bem-preparado, que mostre os problemas de se fazer apenas uma empresa administradora de bens próprios incluindo imóveis sem registro e promessas de compra e venda sem as devidas precauções, você estará colocando em risco a holding dessa família.

O imposto de renda e o imposto de transmissão de bens imóveis

Vou dar mais um exemplo: quando montamos uma holding patrimonial familiar passamos os imóveis para a pessoa jurídica. Para isso a lei dá uma isenção de imposto de transmissão no valor dos bens lançados no imposto de renda. Então, como no caso do Cláudio, se o seu imposto de renda está malfeito você pode ter que pagar impostos que não teria que pagar se estivesse sendo bem-feito.

Uma holding mal estruturada pode causar estragos no seu patrimônio, por exemplo, se você tem imóveis que pretende vender no curto prazo. Imagine que você monta uma holding, se utiliza da isenção de imposto de transmissão e seis meses depois resolve vender um imóvel. Essa venda pode causar uma multa e a cobrança dos impostos de transmissão que deixaram de ser pagos por ocasião da montagem da holding. E o estrago vai ser grande.

Essas orientações a maioria dos advogados não te avisam, porque eles não sabem. Eles não têm a prática necessária para ter esse alerta na mão. E esse é apenas um dos problemas que você pode ter se não for corretamente assessorado por uma equipe especializada no assunto.

O sistema de holding patrimonial familiar

Uma holding patrimonial familiar é um sistema, não uma empresa. É um método, não um simples contrato. Você precisa entender que, uma vez montado o sistema, terá que passar a cuidar dele. Há obrigações mensais a serem cumpridas, relatórios anuais para entregar aos governos municipal, estadual e federal. Você terá que contratar um contador. Manter uma contabilidade em dia é fundamental para não acabar pagando multas.

Esse é um ponto importante, porque uma contabilidade malfeita pode abrir um rombo no seu patrimônio. E isso poderá refletir no seu imposto de renda, podendo haver cobranças na sua pessoa física.

Por isso é que uma holding patrimonial familiar não é o espaço de qualquer contador. Esse contador da holding familiar precisa ter vários papéis. Precisa estar a par dos diversos lados que compõem as holdings e, obviamente, estar assessorado por um advogado societário que entenda profundamente do assunto.

Não é só pegar um contrato e preencher lacunas. Não é um contrato pronto. Exige um planejamento prévio. Exige um cuidado com o estudo dos desejos dos patriarcas para a sucessão e como essa sucessão irá afetar a perpetuação do patrimônio.

Montar uma holding patrimonial familiar exige um planejamento patrimonial da família.

Sim, as holdings são uma excelente ferramenta para ajudar a proteger e maximizar a riqueza da família no tempo. Mas é importante lembrar que requer planejamento e gerenciamento para garantir a eficácia do sistema.

Então, se você está pensando em montar uma holding patrimonial familiar busque aconselhamento com profissionais experientes para garantir que você esteja fazendo a coisa certa para a sua família.

Os profissionais certos para um trabalho importante

Nós trabalhamos durante muito tempo para montar a estrutura perfeita para a família do Cláudio. E essa holding ajudou a família dele a criar um plano para o futuro e proteger o patrimônio. Nesse trabalho contamos com o apoio de outros profissionais para montar o sistema e explicamos que a holding precisaria ser cuidada, pois há obrigações mensais e anuais a serem cumpridas.

A família entendeu que com a nossa ajuda eles poderiam ter um futuro mais seguro. Eles entenderam que os profissionais experientes eram necessários para garantir que tudo estava sendo feito da maneira certa.

Nós cumprimos a nossa jornada e ajudamos a família a evitar surpresas desagradáveis.

Em suma, montar uma holding patrimonial familiar pode ser uma maneira eficaz de proteger o patrimônio familiar dos impostos e da sucessão. No entanto, para obter o melhor resultado possível, é importante tomar precauções e seguir as orientações apropriadas. Desde a criação de documentos até a tomada de decisões, é importante que todas as partes envolvidas trabalhem juntas para garantir que a sua holding seja bem administrada.

Se você está pensando em montar uma holding patrimonial familiar entre em contato. Estamos prontos para te ajudar.

O seu eu do futuro agradece.

Roberto Campos

Roberto Campos Serviços de Apoio ao Empresário Ltda

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